Por Marcelo Barbosa e Kadu
Machado
A derrota que a esquerda
sofreu nas eleições municipais de 2016 – em particular o PT-Partido dos
Trabalhadores – colocou em circulação certas interpretações, a nosso ver,
apressadas, de um processo maior (e mais complexo) associado a uma questão
decisiva: por que caiu o governo progressista?
Por causa da corrupção?
Ao contrário da versão
anunciada à exaustão pela mídia monopolista, os governos do PT e de seus
aliados, criaram condições para atacar a corrupção administrativa por meio de
medidas republicanas como aumento dos níveis de transparência, controle externo
e democratização do acesso aos órgãos do Poder Público. Além disso, equiparam e
melhoraram as condições de trabalho em agências governamentais como o
Judiciário, o Ministério Público, a CGU e a Polícia Federal (que “agradeceram”
esse apoio constituindo base de apoio ao golpe de Estado). A narrativa de um
suposto crescimento da corrupção – processo secular e entranhado no Estado brasileiro
– durante as administrações petistas não se coaduna com a realidade.
Por causa de suas alianças?
Muito pelo contrário, a
construção de um frente de centro-esquerda serviu de escudo por mais de 13 anos
contra a oposição predatória da coalizão neoliberal liderada pelo eixo PSDB- DEM.
Permitiu ainda governar e aprovar medidas positivas – até reformas, como o
marco regulador da internet e a alteração no regime de exploração do Petróleo,
agora jogada por terra – dentro das regras limitadas do chamado presidencialismo
de coalizão. O rompimento da aliança, induzido por nós em janeiro de 2015, com
o lançamento e a derrota de uma chapa própria das esquerdas à presidência da
Câmara, representou o início do processo de isolamento dos setores
progressistas que culminou no impeachment.
Por óbvio, o caráter da
aliança deveria ser mais programático e menos marcado pelo pragmatismo. Porém,
esse fato não anula os bons resultados que a aliança prestou. A alternativa de
pressionar de fora para dentro as instituições não funcionaria em face da
relativa fraqueza das áreas do sindicalismo e do movimento sindical, ainda em
processo de acumulação de forças (até o momento não foram e não estão sendo
capazes sequer de construir uma greve geral).
Por não ter avançado na realização de reformas?
De fato, nossos governos
subestimaram a importância do aprofundamento do processo de reformas. No
entanto, em termos lógicos, isso explica apenas porque a sociedade não avançou
tanto quanto poderia nos últimos 13 anos, mas não explica porque retrocedeu ao
impeachment. O golpe não pode ser atribuído à timidez nas reformas, embora
fosse importante que tivessem sido postas em prática.
Devido a opção de não apostar na organização
popular?
Em parte, essa crítica
procede. Por certo, teria sido algo de bastante positivo a ênfase na ativação
dos mecanismos de democracia de base e participação direta do povo na luta
pelas conquistas e consolidação de direitos. Mas essa autocrítica não cabe
apenas aos governos progressistas. Apenas em 2015 os movimentos sociais
despertaram para a necessidade da fundação das suas frentes, em particular a Frente
Brasil Popular e a Povo Sem Medo. De longe, a iniciativa mais importante dos
últimos anos.
Por causa da resposta do nosso governo ao
agravamento da crise internacional?
Sim, a insistência numa
política econômica excessivamente contracionista deprimiu os níveis de emprego,
crescimento econômico e geração de renda no país. A isso se deve, em larga
medida, o crescimento da oposição ao governo entre as camadas médias e setores
empresariais (curiosamente, a nossa base de apoio entre as classes populares,
embora desencantada e passiva em face do golpe, não aderiu à nova ordem).
Devido à passividade em atacar essa conspiração no
interior do aparelho de Estado que atende pelo nome de operação Lava Jato?
Sim, desde seu início, o processo
judicial instruído pelo Juiz Moro consistiu em vetor de desnacionalização da
economia e golpe. A crença infantil de que seria possível combater a corrupção
abrindo mão do sistema de direitos e garantias individuais e coletivas – ilusão
alimentada inclusive por setores da esquerda e do nosso governo – abriu caminho
à desarticulação do Estado de Direito Democrático que estamos vivendo. Em
nenhum momento voltada para atacar, de verdade, o problema da corrupção
administrativa, a operação Lava Jato prosseguirá – caso não seja detida por uma
forte reação das instituições e da cidadania – até a destruição de todas as
forças políticas que não compartilhem de seu fundamentalismo neoliberal,
inclusive o auto-iludido e traiçoeiro PMDB.
Conclusão
A eleição de 2 de outubro
revelou as reais dimensões de nosso campo de influência, ao momento, muito
reduzido. Porém, com todas as suas debilidades, também exibiu a disposição de
luta de milhares de combatentes sociais que demonstraram vontade de resistir
contra o golpe em favor do retorno à democracia.
Só a com a unidade de
todos os setores progressistas associada à capacidade de mobilização será
possível abreviar a duração da noite obscura que se abateu o país.
Fora Temer!
Nenhum Direito a Menos!
Diretas Já!
Freixo, Prefeito!
Nenhum comentário:
Postar um comentário