Por
Marcelo Barbosa
Em 2015,
o Brasil tem servido de campo de experiência para técnicas de desestabilização
de governos. Esse ano, ao que tudo indica, já são três os procedimentos
utilizados.
No início
do ano, a "tecnologia" foi a da clássica "orquestração" –
expediente posto em prática nas chamadas "Revoluções de Veludo", no
Leste Europeu e, em nosso subcontinente, na Venezuela: protestos de rua,
locaute de caminhoneiros e bombardeio de saturação por parte da mídia, entre
outros recursos.
Não deu
certo, apesar do volume das manifestações de março.
Em
seguida, foi a vez de lançar mão da tática do "Golpe Paraguaio".
Assim, a contestação ao governo legitimamente eleito migrou para instâncias
como o TCU e TSE. Também não funcionou. Afinal, a magistratura brasileira, ao
contrário das percepções de áreas da esquerda e da direita brasileira, não
constitui um poder reacionário, em si. Os juízes, em sua maioria, têm posições
democráticas. Estão, na verdade, assustados diante do barulho produzido pelo
golpismo, se abstendo – o que é grave – da sua tarefa de garantir o exercício
dos direitos e garantias individuais e coletivos.
O
terceiro experimento, ao que parece, se encontra em impulso. É a versão
tupiniquim da operação "Mãos Limpas".
Trata-se
de uma espiral de demolição de todo o sistema político brasileiro. Não deve
ficar nada de pé. Tudo está sob suspeição: "as empresas públicas nas quais
grassa a corrupção" (sic), "todos os partidos" (sic), o
"Poder Executivo", e agora, a "novidade" da revelação das
ligações perigosas entre o Senador Delcídio e pelo menos quatro ministros do
STF, o que compromete o Judiciário.
Enfim,
ganha foros de realidade uma narrativa na qual todo o conjunto da vida
institucional brasileira está "apodrecida".
Quem
ganha com isso?
É sempre
muito difícil dizer. Podemos indagar ao passado, guardadas as diferenças. Na Itália,
o processo gerou um novo bloco de poder formado pela mídia monopolista,
substituindo os partidos (com o Berlusconi a frente), em aliança com a
tecnocracia ligada ao capital financeiro, com o aval da OTAN.
Marcelo Barbosa é advogado, doutor em Literatura
Comparada pela UERJ e diretor-coordenador do Instituto Casa Grande e autor,
entre outros, de A Nação se concebe por ciência e arte – três momentos doensaio de interpretação do Brasil no século XIX
Em que ponto o autor Marcelo quer chegar com esse texto? Defender o governo atual com o discurso do "golpismo"? Se fosse isso, seria melhor ele assumir essa posição ao invés de dar voltas sobre o tema. Seria inclusive curioso se tivessemos em um cenário onde os '"reacionários" e a "direita" estivesse no poder (como se o PT fosse de esquerda...) para saber qual sua posição sobre os mesmo caminhoneiros, e o volume de manifestações feitas contra as medidas do governo.. medidas essas, alias, contra o trabalhador. Não vemos o grande empresário chorando porque o governo está impondo um castigo insuportável. E ajustiça é sóbria e pragmática sr. Marcelo. Essa de democrática é balela... Se a nossa justiça fosse democrática, de forma macro, não teriamos tanta gente pobre nas cadeias e tanta gente de colarinho branco solta, mesmo com os novos ventos que indicam uma mudança, mas que curiosamente você chama de golpe. Um abraço.
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