11 de julho de 2015

Prosseguindo com o Valter

Por Marcelo Barbosa

Embora desconfie que os nossos leitores devam estar com as medidas cheias, não consigo resistir à tentação de responder mais uma vez às objeções do companheiro Valter, seguindo a mesma ordem dos argumentos apresentados na sua mensagem anterior:

1-Nunca é demais repetir, também persigo uma orientação econômica alternativa ao ajuste. Só não pretendo fazê-lo fragilizando a iniciativa de um governo momentaneamente enfraquecido, em parte pelos seus erros, mas principalmente pela ação golpista da direita.

2-O que o 5º Congresso fez, corretamente, a meu ver, foi impedir que o PT aprovasse uma atitude que viesse a ser interpretada como oposição do partido ao seu próprio governo.

3- Os índices de popularidade da presidenta, ao que tudo indica, baixaram em alguma parcela por causa da economia, mas principalmente em vista da ofensiva dos setores reacionários associados à mídia monopolista.

Ou seja, há uma crise política induzindo uma crise econômica. Como uma profecia autorrealizada. Acho que não interessa para nós funcionar na condição de trombetas do apocalipse. Devemos apoio à Presidenta, ainda que apoio crítico.

4- Defendo a aliança com o PMDB no plano tático e estratégico.

No que se refere à estratégia, considero possível cumprir algumas tarefas referentes ao um projeto de nação em parceria com o PMDB (vide item 6 do presente texto).

Em sentido tático, a aliança com o PMDB e setores ao centro é necessária, como já expus anteriormente, para evitar o isolamento e a derrota das forças que apóiam o governo e implementam um programa, desde 2003, de mudanças, ainda que limitadas.

Eduardo Cunha sabe disso. Por isso, intenta por todos os meios, públicos e privados, destruir a aliança. Se fizer isso, o que até agora não conseguiu, terá reunido as condições para desfechar o golpe institucional.

5- Só haveria contradição entre uma orientação econômica não recessiva e nossa política de alianças caso o PMDB fosse uma agremiação de conteúdo ideológico neoliberal. O que não ocorre.

Durante a votação do ajuste, o PMDB fez aprovar – e aí pouco importa o real  motivo de suas intenções – várias medidas contrárias à lógica do conjunto de MPs encaminhado pelo PT, entre as quais: fim do fator previdenciário, correção integral das aposentadorias, continuidade dos programas de desoneração para as indústrias de beneficiamento de alimentos, entre outras.

6- Parte da crítica de Valter procede. Cometi uma imprecisão. O PMDB não é fisiológico. Não pode ser comparado às chamadas legendas de aluguel envolvidas no chamado mensalão.

Em minha opinião, na sua parcela majoritária, o partido agrupa os interesses das velhas elites agrárias, em especial dos estados mais empobrecidos, que apenas conseguem reproduzir a sua presença política devido ao efeito que os recursos das chamadas emendas do orçamento da União produzem na economia de suas localidades.

Absolutamente dependente dos governos, nos três níveis da república, o PMDB necessita de um Estado que não seja mínimo em hipótese alguma, daí porque seus interesses de grupo não confundem com os do capital financeiro ou do agronegócio representados, com muito mais nitidez, na coalizão neoliberal encabeçada pelo condomínio PSDB-DEM. Isso muito embora, por injunções regionais, haja interlocutores das áreas mais reacionárias dentro desse partido, a exemplo de Eduardo Cunha e Kátia Abreu, bem como das áreas progressistas, a exemplo do senador Requião.

Em condições de avanço do movimento de massas - diversas das atuais que refletem uma conjuntura de cerco e resistência – o apoio do PMDB pode ser mobilizado para ações estratégicas como o fortalecimento do setor público da economia, vide a votação do Pré-Sal, ou aprofundamento de direitos sociais, como no caso da regulamentação da profissão de Empregada Doméstica. Para que não haja ilusões, no entanto, é necessário reconhecer que, no que se refere à questão agrária, provavelmente não poderemos contar integralmente com esse partido. E, pelo visto, nem com os companheiros do PC do B, que votaram a favor de mudanças no Código Florestal.

Nem santo, nem demônio, o PMDB exibe diferenças em relações a nós, da esquerda. Mas, aliança não se faz entre iguais e sim entre diferentes. Em suma, o problema não está no PMDB. A questão reside na nossa dependência ao PMDB e às alianças “por cima”. No entanto isso não se resolve com uma penada. É necessário que o movimento de massas aprofunde a sua unidade, elaboração programática e capacidade de mobilização. Só assim a dependência poderá ser diminuída.

7- Concordo plenamente.

8- A divertida esquizofrenia redacional do Valter merece parabéns. O manifesto é excepcional. Só acho que a tática de um Valter não guarda correspondência com a estratégia do outro Valter. Mas, creio que já ressaltei esse aspecto anteriormente.

Cordialmente

Marcelo

Prosseguindo na polêmica com Marcelo Barbosa

Por Valter Pomar

1- Não sei com base no que Marcelo acredita que o programa “ideado” pelo Mantega não “tinha a abrangência que assumiu em 2015”.

O que sei é que a campanha de 2014 estava em curso e Guido Mantega já falava em ajuste fiscal.

O que também sei é que, na mesma época, Nelson Barbosa esteve em reunião do grupo de conjuntura da Fundação Perseu Abramo e defendeu algo na linha do que está sendo feito agora.

Estes entre outros são meus elementos para considerar que o Levy foi convidado para aplicar um determinado programa.

Agora, é bom lembrar por quais motivos isto entrou em discussão. A saber: o ajuste pode ser explicado ou justificado pela ofensiva da direita? Ou a ofensiva da direita é facilitada pelo ajuste? Este é o centro da polêmica.

E a prova dos 9, na minha opinião, está no seguinte: é possível derrotar a ofensiva da direita sem parar o ajuste? As grandes massas populares terão ânimo para defender a democracia, se o governo democrático estiver fazendo um ajuste recessivo?

2- É acaciano dizer que a instabilidade política “teve e tem natureza política”. A questão que discuto é outra: para derrotar a instabilidade política, é preciso recuperar a confiança popular. E isto é muito difícil de fazer, se o governo não lembra a última vez que deu boas notícias para o povo (copio aqui a síntese feita pelo Lula).

Por isto, não vejo separar a luta por outra orientação econômica no futuro, da luta no presente contra o ajuste. Aliás, tentar fazer esta separação foi o maior erro do recente 5º Congresso do PT.

3- Me surpreende que Barbosa diga que os efeitos da atual orientação econômica “ainda não se fazem sentir com tanta intensidade”.

Que vai piorar muito, eu sei.

Mas que já piorou o suficiente, basta ver os índices de popularidade da presidenta, do Lula e do PT.

4- Claro que há diferenças entre Cunha e Temer.

O problema – aqui e em outras passagens da polêmica – é que Barbosa passa do plano estratégico para o plano tático e vice-versa, sem dar seta.

Por partes: no plano estratégico, concordamos que Cunha e Temer não são nossos parceiros.

No plano tático, concordamos que há diferenças entre um e outro. Cunha está na oposição. Já Temer defende a legitimidade do mandato da presidenta a depender da cotação do dia.

Seja como for, qual a consequência que tiramos disto tudo, quando a discussão diz respeito a aliança com o PMDB?

Continuaremos a aliança estratégica com o PMDB, aprovada num congresso do Partido?

Ou esta aliança esgotou-se?

Esta é a polêmica.

5- Barbosa diz não ver “vínculo direto entre a nossa política de alianças e atual política econômica”.

Repito aqui o que disse antes: Claro que há um vínculo direto e outro indireto entre a atual política econômica e a política de alianças. Mas o mais importante é: outra política econômica exige outra política de alianças. Ou alguém acha que a atual aliança (que inclui Cunha e Temer) é compatível com uma política de transformações profundas?

Repito o mesmo, agora sob forma de pergunta: é possível outra política econômica com a atual política de alianças?

6- O fato do PMDB ser uma agremiação fisiológica e não um partido dotado de uma ideologia clara não tem nada que ver com isto.

Ele poderia ser ideológico e honesto e o problema estaria colocado, pois a questão é: que setores sociais o PMDB representa, nacionalmente?

Aliás, a resposta de Barbosa me lembra a crença de alguns amigos nossos acerca de como seria "fácil" lidar com os partidos fisiológicos. Não terminou bem aquele história, mas pelo visto já tem gente se esquecendo dela.

7- Não fico surpreso com o fato de um ajuste de corte “tucano” estar sendo patrocinado por um setor do PT.

Não esqueci de Palocci.

8- Barbosa apresenta uma dúvida divertida: “com qual Walter Pomar devo manter diálogo? Aquele que defende a tese do fim do ciclo da Carta de 1988, ou aquele que assina o memorável Manifesto do Grupo Brasil, documento que coloca no centro da tática do campo democrático-popular a mobilização contra o programa de contrarreformas constitucionais encabeçado por Eduardo Cunha?”

A resposta é: ambos são a mesma pessoa. Aliás tenho enorme identidade com a pessoa que redigiu o tal Manifesto.

Acontece que o fato de estarmos num momento de defensiva não pode nos impedir de pensar estrategicamente.

Aliás, um dos grandes motivos dos problemas que estamos vivendo foi a incapacidade de pensar estrategicamente.

Noutras palavras: adotar uma tática defensiva contra um inimigo momentaneamente superior em forças, não me impede de discutir por quais caminhos poderei impor uma derrota estratégica a este inimigo, quando houver condições de sair de defensiva e passar para a ofensiva.

Estou seguro, por sinal, que o Manifesto dá conta destes dois aspectos.

Atenciosamente

Valter Pomar

Retirado do blog do Valter Pomar.



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