31 de julho de 2015

No ar, a edição do JULHO do jornal Algo a Dizer

No ar, a edição de JULHO do jornal de Cultura e Política Algo a Dizer com o seguinte conteúdo:

1- O quadrinista e ilustrador Johandson Resende entrevista Vivian Pizzinga, que fala de seu último livro A primavera entra pelos pés – lançado há pouco – e do processo de construção de sua estrutura;

2- O engenheiro Pedro Celestino – candidato a presidente na chapa de unidade que concorre às eleições do Clube de Engenharia que ocorrerão em agosto – explica, item por item, todo o equívoco e entreguismo da proposta do senador José Serra sobre a Petrobras e a exploração do Pré-Sal;

3- Marcelo Barbosa comenta a trajetória da Rede Globo, avaliando seus êxitos e equívocos – e conclui o texto com uma proposta polêmica;

4- O aniversário das manifestações de junho/julho de 2013 na visão do poeta Luca Barbabianca;

5- Guido Bilharinho analisa o filme A casa assassinada, realizado em 1970 por Paulo César Sarraceni;

6- A lembrança de Jorge Nagao na passagem dos 50 anos da Jovem Guarda;

7- No “Cotidiano”, de Maria Balé, uma história de amor platônico pra lá de interessante;

8- A bela crônica de Adilson Luiz Gonçalves, À beira do regato;

9- Bem urdida alegoria de Afonso Guerra-Baião interroga a ofensiva conservadora no Congresso e na sociedade;

10- Alexandre Brandão dialoga com o leitor em Para quem escrevo: uma crônica-dedicatória;

11- A vida como ela é, na crônica de Leonel Prata Assim caminha a humanidade;

12- A fina ironia de Sergio Antunes, na sua crônica Marte à vista;

13- A realidade e a imaginação em Sonhos, crônica de Valéria Lopes;

14- Os nossos medos, no poema Sobrenatural de Adriane Garcia;

15- A morte do Rei Leão, contundente – e necessário – desabafo de Cinthya Nunes ao crime estúpido cometido por um dentista/caçador americano na África;

16- Interessante ensaio de Carlos Russo Jr sobre a Psicologia Histórica, disciplina desenvolvida pelo polonês-francês Ignace Meyerson.

Um abraço e boa leitura

Kadu Machado

(21) 99212-3103

29 de julho de 2015

O senador José Serra e a entrega do Pré-Sal


Por Pedro Celestino Pereira

Cabe registrar a disposição do nobre senador José Serra de, finalmente,  oferecer à opinião pública as razões que o fizeram apresentar o PL 131, que retira a obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única dos campos do pré-sal. O debate de idéias em termos elevados é  intrínseco à democracia. É pena, entretanto, que tal disposição só tenha se manifestado após 46 senadores terem rejeitado o pedido de urgência para a tramitação do seu projeto; caso o houvessem aprovado, a deliberação sobre assunto de vital interesse para o país seria tomada sem discussão. É que o senador considera o petróleo uma commodity, e não um insumo estratégico para o Brasil. Não vê, ou não quer ver, que o controle do petróleo é, e continuará a ser nas próximas décadas, o pano de fundo dos principais conflitos geopolíticos mundiais.

Considere-se, por exemplo, o cenário antevisto pela AIE - Agência Internacional de Energia, que prevê que:

a) a produção mundial de petróleo continuará a crescer, passando dos atuais 85 milhões de barris/dia para quase 100 milhões de barris/dia em 2035;

b) os campos produtores  atuais atingiram seu pico de produção (65 milhões de barris/dia) em 2007/2008, entrando em declínio desde a partir daí;

c) em 2035 cerca de 38 milhões de barris/dia serão produzidos por campos  já descobertos, (mas não em produção) por campos novos a serem descobertos.

Resultado deste cenário: a ampliação do estoque de reservas para futura produção de petróleo continuará  a ser  o principal objetivo das petrolíferas privadas mundiais (Shell, Exxon, Chevron, BP e Total). E quando se fala de petróleo, área em que os projetos são de longa maturação, pois envolvem largo espectro de riscos e incertezas, assenhorear-se de áreas já descobertas, em que tais imprevisibilidades sejam minimizadas, torna-se objetivo prioritário dessas empresas. Não foi outro o motivo que levou recentemente a Shell a comprar a BG. Segundo o seu presidente a Shell, ao adquirir a BG, aumentará nos próximos 5 anos a produção de petróleo no Brasil, dos atuais 100 mil barris/dia para 500 mil barris/dia. Com isso, 20% da sua produção mundial sairá do Brasil.

No planeta, nos últimos 30 anos, a maior descoberta de petróleo foi a do pré-sal brasileiro, com reservatórios a exibir níveis de produtividade incomuns (poços que produzem mais de 20 mil  barris/dia), com baixo custo de extração (US$ 9,00/barril, segundo a Petrobrás). Esta é a razão do desesperado interesse das petrolíferas privadas mundiais no nosso pré-sal.Qualquer empresa petrolífera preocupa-se simultaneamente com o aumento da produção e o aumento das reservas. Se é a produção que sustenta financeiramente a empresa, são as reservas que propiciam o lastro econômico que, por sua vez, promove a sustentabilidade do seu futuro. A produção dos campos produtores decai em média 10% ao ano e as reservas se esgotam rapidamente, por isso a atividade de exploração e produção (E&P) é tão frenética na busca de novas reservas.

No Brasil, após a quebra do monopólio estatal do petróleo em 1997, a estratégia das  petrolíferas privadas mundiais foi a de aguardar os resultados dos esforços exploratórios – como se sabe,  carregados de riscos e incertezas – da Petrobrás, para aí sim, sem risco exploratório algum, adquirir as áreas promissoras, em leilões promovidos pela ANP, agência cada vez mais capturada por interesses privados. Basta dizer que sua diretora-geral defende a revisão da Lei da Partilha. Não por acaso, a ANP é tão cara ao senador Serra, desde o tempo de David Zylberstajn, o competente genro de FHC.

O modelo de partilha foi adotado para assegurar ao país ganhos maiores, em áreas de risco exploratório muito baixo, como é o caso do pré-sal. Ao propor que a Petrobrás deixe de ser a operadora única do pré-sal, o senador Serra presta um serviço às petrolíferas privadas mundiais. É da entrega do nosso petróleo, é disto que se trata, o que não é novidade. Basta recordar o que ocorreu após a quebra do monopólio da Petrobrás. Para atrair as empresas estrangeiras, determinou-se irresponsavelmente à Petrobrás reduzir a aquisição de blocos para explorar, descobrir e produzir petróleo nas rodadas I, II, III e IV (esta em 2002). Se essa diretriz não fosse revertida a partir de 2003 com a retomada da aquisição de blocos nas rodadas seguintes, a partir de  2008 a Petrobrás não teria mais onde explorar em território brasileiro,  comprometendo o seu futuro como empresa petrolífera.

O aumento constante das reservas e da produção a partir de 2003 decorreu da forte retomada dos investimentos em E&P e da decisão de abandonar a política de concentração dos investimentos na Bacia de Campos, com grande produção, mas com declínio de produção já à vista (sucediam-se os poços exploratórios secos perfurados). Essa inflexão permitiu que  as sondas fossem espalhadas pelas bacias do Espírito Santo, Santos e Sergipe, que propiciaram, a partir de 2003, as grandes descobertas e o crescimento efetivo das reservas e da produção, processo que culminou com a descoberta do pré-sal em 2006. É bom lembrar que essas bacias tinham sido praticamente abandonadas nos anos anteriores, para permitir a entrada das empresas estrangeiras.

Se a Petrobrás continuasse concentrada  na Bacia de Campos – a empresa  abandonara investimentos  em áreas novas – aí sim, teria sido transformada em uma empresa petrolífera sem qualquer sustentabilidade financeira, a curto prazo, e econômica, a longo prazo.

O aumento da produção foi extraordinário a partir de 2003. Extraordinária também foi a elevação das reservas. Apesar dos desmandos, a Petrobras passou a ser a melhor, a mais eficaz e, economicamente, a mais sustentável a longo prazo das grandes empresas petrolíferas mundiais. Definitivamente não está, como diz o senador Serra, “quase arruinada”.

O senador Serra critica o endividamento da Petrobrás, segundo ele quase 6 vezes maior que o endividamento médio das petrolíferas. Para não questionar números, pois caberia argüir a que universo de empresas corresponderia a média por ele citada, basta dizer que há petrolíferas de inúmeros tipos, tamanhos/dimensões e missões/objetivos empresariais. As estatais do Oriente Médio, por exemplo, têm endividamento baixíssimo, pois produzem em campos terrestres, de geologia bem conhecida; já as petrolíferas privadas mundiais têm reservas e produção cadentes há anos, o que em contrapartida lhes permitiu acumular recursos financeiros para adquirir reservas mundo a fora, o que lhes seria permitido aqui, caso o projeto do senador Serra fosse aprovado. Nenhuma delas é como a Petrobrás, detentora de reservas totais de petróleo crescentes, que beiram os 30 bilhões de barris, que conta com um corpo técnico reconhecido como entre os melhores e mais bem capacitados – senão o melhor – dentre todas as petrolíferas, que detém tecnologia integral para não só produzir suas reservas de petróleo, como para avançar continuamente no domínio tecnológico, e que apresenta a mais segura e eficaz competência operacional do mundo para produzir em águas ultra profundas, como as do pré-sal,  com total segurança paras as pessoas e para o meio ambiente. O mau uso da estatística pelo senador Serra traz à lembrança o falecido Roberto Campos, que acertadamente dizia que a estatística mostra o supérfluo e esconde o essencial.

O senador Serra, para justificar a entrega do petróleo do pré-sal às petrolíferas privadas mundiais, alega que, entre a quebra do monopólio estatal em 1997 e 2010, sob o regime de concessão, a produção de petróleo da Petrobrás passou de 800 mil barris/dia para 2 milhões de barris/dia, enquanto que, sob o regime de partilha, teve um “aumento pífio de 18%”. Aqui está a justificativa, ainda velada, para o abandono do regime de partilha, iniciado pelo seu projeto. O argumento do senador não se sustenta: o aumento da produção de petróleo da Petrobrás até 2010 decorreu, essencialmente, da produção de descobertas anteriores à quebra do monopólio, pois a produção das descobertas posteriores só começou a se fazer sentir a partir de 2005-2006; nada, porém, se compara à extraordinária curva de crescimento da produção de petróleo no pré-sal, que aumenta mês a mês desde 2013, quando lá se iniciou a produção, à taxa de 5% a.m., chegando hoje à casa dos 800 mil barris/dia. Esta é a razão da tentativa, patrocinada pelo senador Serra, de entregar o nosso petróleo às petrolíferas privadas mundiais.

O senador Serra critica a Petrobrás pelo “controle oportunista de preços” e pelos “projetos aloprados de refinarias”, que teriam quase arruinado a empre.

Quanto ao “controle oportunista de preços”, labora em erro o senador Serra. Administrar o preço na porta da refinaria é do interesse do cidadão brasileiro - em ultima análise, o acionista controlador da Petrobrás – e cumpre função social de extrema importância, a do controle do custo de vida. Os acionistas estrangeiros, introduzidos na Petrobrás após a quebra do monopólio, é que não concordam com isso, exigem o alinhamento dos preços dos produtos da Petrobrás aos preços internacionais. A quem serve o senador Serra ao defender essa opinião? Certamente, não aos interesses nacionais.

Quanto aos “projetos aloprados de refinarias”, tanto o Comperj no Rio de Janeiro, como a Renest em Pernambuco, são tecnicamente justificados, pois agregam valor ao petróleo aqui produzido e tornam o país auto-suficiente neste insumo. Na verdade, a posição do senador é coerente com a do governo FHC, do qual foi uma das principais lideranças: buscou-se, então, desinvestir em refino (alienou-se da Refap à YPF e preparou-se a venda da Reduc, suspensa em 2003), para tornar o país dependente da importação de derivados. As beneficiárias da canibalização da Petrobrás seriam, é claro, as petrolíferas privadas mundiais.

Finalmente, o senador Serra comenta algumas decisões da atual diretoria da Petrobrás, em princípio alinhadas às suas ideias. Propõe-se a venda de ativos de produção, solução simplista que suprimirá da Petrobrás  justamente a origem dos recursos que, no futuro, garantirão o rolamento das suas dívidas e a sustentabilidade a longo prazo da  saúde financeira da empresa. As medidas anunciadas são, na verdade,  uma solução obtusa, que beira o suicídio empresarial, em favor de interesses das petrolíferas privadas mundiais, tão caras ao senador Serra.

Pedro Celestino é engenheiro e candidato da chapa de unidade Engenharia e Desenvolvimento que concorre às eleições do Clube de Engenharia.

Veja sua entrevista ao programa Diálogo, da Globonews, dirigido por Mario Sergio Conti


23 de julho de 2015

A doença e a cura

Por Marcelo Barbosa

Decorridos dois anos da sua edição original, em espanhol, chega ao Brasil o livro Um repórter na Montanha Mágica – como a elite econômica de Davos afundou o mundo (Editora Apicuri, 224p.), de autoria do repórter inglês Andy Robinson. Um exercício de jornalismo absolutamente atual. Principalmente em tempos de uma crise financeira que não cansa de fazer vítimas, ao centro e à periferia do capitalismo. Equilibrando bem-fundamentada investigação jornalística e exercício de estilo, ao qual comparecem pitadas de ironia, Robinson revela os bastidores do chamado WEF (Forum Econômico Mundial), sem disfarces. Toda a cupidez, ganância e, acreditem, auto-indulgência da classe dos senhores da riqueza mundial desfila pelas páginas do relato que também abriga descrições, por vezes hilárias, das personalidades do mundo político e artístico escaladas para o legitimar o grande teatro de ilusões de Davos, como Bill Clinton e Bono Vox. Não faltam, ainda, esclarecimentos sobre os modos de transformar filantropia em pilantragem globalizada, seja no Haiti ou na Irlanda.

Recomendo, com entusiasmo, a leitura do livro. Não apenas pela oportunidade de suas denúncias. Mas, também, pelos recursos de natureza criativa que Andy Robinson maneja no texto. Em especial o paralelo proposto pelo repórter entre os aspectos ficcionais do romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, e os elementos de realidade pontuados na sua crônica de Davos. Uma combinação responsável por uma linguagem cheia de brilho, capaz de tornar atraente – sem nenhum didatismo – a leitura a vários tipos de público, inclusive aqueles sem especial interesse em temas econômicos. Para se ter uma idéia dessa interação realidade-ficção, todos os capítulos de “Um Repórter na Montanha Mágica” surgem precedidos por uma passagem curta de trechos do romance de Mann, de grande funcionalidade em face dos temas abordados. O resultado informa, não deixa de ser jornalismo, mas não exclui o dado da imaginação.

Na narrativa de Mann, é descrita a vivência do personagem principal, Hans Castorp, num sanatório para tuberculosos no interior da Suíça (a título de curiosidade, se não me engano, o nosso Manuel Bandeira, recebeu tratamento numa instituição dessas durante a segunda década do século XX). Sem exibir sinais de enfermidade, o protagonista vai sendo inoculado por uma “cura” destinada a torná-lo progressivamente doente do espírito, numa época igualmente doentia, cujo desfecho caminha para a eclosão da I Guerra Mundial. Já no livro de Robinson, o retorno a uma Davos da atualidade, sem sanatórios, flagra outro tipo de patologia destinada a debilitar o mundo inteiro: o aumento da desigualdade econômica. Diante da irracionalidade de uma estratégia de acumular riqueza sem dividi-la não faltam advertências de especialistas como Roubini ou Piketty. O problema reside no fato de que as elites econômicas e políticas parecem muito pouco dispostas a ouvir esses diagnósticos.

Durante a sessão de autógrafos de “Um Repórter na Montanha Mágica”, no Rio de Janeiro – evento antecedido por um rápido debate entre mim, o autor, o jornalista José Augusto Ribeiro e o tradutor da obra, Luiz Carlos Moreira da Silva – Robinson recebeu o seguinte questionamento de alguém da platéia: “será que, da mesma maneira do final trama de Thomas Mann, o mundo vai rumando para uma grande convulsão planetária por conta do quadro econômico?” O jornalista respondeu nos seguintes termos: “as conclusões finais do meu livro pareciam bastante pessimistas, há dois anos. De lá para cá, as coisas mudaram. Aos movimentos como Ocuppy Wall Street, vieram se somar alternativas de poder real em várias partes do mundo. Inclusive o Syriza, na Grécia e o Podemos, na Espanha. O quadro alterou-se, de alguma maneira”.

Alguns poderão sugerir objeções ao otimismo moderado de Robinson. Ou mesmo concordar. Só não dá para negar o óbvio: que para os males originados na economia mundial, a única terapêutica é a política.

Marcelo Barbosa é advogado, doutor em Literatura Comparada pela UERJ, diretor-coordenador do Instituto Casa Grande e autor, entre outros, de A Nação se concebe por ciência e arte – três momentos do ensaio de interpretação do Brasil no século XIX

http://apicuri.com.br/index.php/product/1212-um-reporter-na-montanha-magica-como-a-elite-economica-de-davos-afundou-o-mundo

11 de julho de 2015

No ar, a edição de JUNHO do jornal Algo a Dizer

Já está no ar a edição de JUNHO do jornal de Cultura e Polícia Algo a Dizer, com o seguinte conteúdo:

1- A íntegra do debate entre Valter Pomar – dirigente nacional do PT e da tendência “Articulação de Esquerda” desse partido – e Marcelo Barbosa – diretor-coordenador do Instituto Casa Grande (ICG) – em torno do documento Mito e realidade no cotidiano petista, de autoria de Marcelo e minha.

Essa troca de textos foi levada a cabo por publicações no blog do Valter Pomar e no blog do jornal Algo a Dizer.

As primeiras dessas intervenções já foram enviadas antes aos nosso leitores por e-mail e divulgadas no Facebook.

As duas últimas – inéditas!: Prosseguindo na polêmica com Marcelo Barbosa e Prosseguindo com o Valter –, encabeçam a coletânea publicada agora;

2- O presidente do Instituto Pensar, de Salvador, Bahia, Domingos Leonelli, desenvolve uma opinião analítica sobre o fenômeno da corrupção;

3-O crítico Guido Bilharinho discorre sobre o filme Porto das Caixas, de Paulo César Sarraceni;

4 - A resenha feita pelo escritor Tadeu Sarmento do livro Fábulas para adulto perder o sono, de Adriane Garcia – poeta e escritora, colaboradora do Algo a Dizer –, cuja reedição, para nosso deleite, sairá em brevepela editora Confraria do Vento;

5- O texto sempre bem-humorado de Jorge Nagao em Matheus, chef;

6- Uma ótima dica cultural feita pela escritora Adriana Aneli: o livro Sobre lagartas e borboletas, coletânea de textos de vários escritores de qualidade, entre os quais, muitos são colaboradores do Algo a Dizer;

7- O “Cotidiano” denso e lírico de Maria Balé com Ser feliz é um presente;

8- Em sua crônica, Adilson Luiz Gonçalves critica as “decisões políticas” na gestão pública;

9- A crônica de Afonso Guerra-Baião interroga sobre a sobrevivência da utopia;

10- A crítica contundente e bela da sociedade de massa na crônica Rondó da cor mais dúbia, de Alexandre Brandão;

11- Um libelo contra o ódio, a crônica de Cinthya Nunes Menos intolerância, por favor;

12- A fina e bem-humorada crônica de Leonel Prata, E o bilau, Bilão?;

13- As reminiscências musicais de uma família na crônica De shows e filhos, de Marilena Montanari;

14- A crônica de Sérgio Antunes Descupe, foi engano, retrata a irritante realidade do contato com um tele-atendimento;

15- A crônica de amores fugazes em Momento, de Valéria Lopes;

16- A denúncia da sub-sociedade no poema No baixo meretrício, de Adriane Garcia;

17- Ode ao amor, no Soneto da epifania do amor, de Luca Barbabianca;

18- Eixo, um forte e curto conto de Vivian Pizzinga, retirado do seu recém-lançado livro A primavera entra pelos pés (Editora Oito e Meio, 113p.);

19- Um curto – mas importante – ensaio de Flávia Vinhães Santos, economista do IBG e professora da Ucam e da FGV-Rio Pleno emprego no Brasil.

Leitura indispensável para os que querem entender as baixas taxas de desemprego alcançadas pelos governos de Lula e Dilma. E para saber em que medida a crise e o chamado ajuste fiscal colocam – ou não – essa conquista em perigo.

Um abraço e boa leitura

Kadu Machado

(21) 99212-3103

Prosseguindo com o Valter

Por Marcelo Barbosa

Embora desconfie que os nossos leitores devam estar com as medidas cheias, não consigo resistir à tentação de responder mais uma vez às objeções do companheiro Valter, seguindo a mesma ordem dos argumentos apresentados na sua mensagem anterior:

1-Nunca é demais repetir, também persigo uma orientação econômica alternativa ao ajuste. Só não pretendo fazê-lo fragilizando a iniciativa de um governo momentaneamente enfraquecido, em parte pelos seus erros, mas principalmente pela ação golpista da direita.

2-O que o 5º Congresso fez, corretamente, a meu ver, foi impedir que o PT aprovasse uma atitude que viesse a ser interpretada como oposição do partido ao seu próprio governo.

3- Os índices de popularidade da presidenta, ao que tudo indica, baixaram em alguma parcela por causa da economia, mas principalmente em vista da ofensiva dos setores reacionários associados à mídia monopolista.

Ou seja, há uma crise política induzindo uma crise econômica. Como uma profecia autorrealizada. Acho que não interessa para nós funcionar na condição de trombetas do apocalipse. Devemos apoio à Presidenta, ainda que apoio crítico.

4- Defendo a aliança com o PMDB no plano tático e estratégico.

No que se refere à estratégia, considero possível cumprir algumas tarefas referentes ao um projeto de nação em parceria com o PMDB (vide item 6 do presente texto).

Em sentido tático, a aliança com o PMDB e setores ao centro é necessária, como já expus anteriormente, para evitar o isolamento e a derrota das forças que apóiam o governo e implementam um programa, desde 2003, de mudanças, ainda que limitadas.

Eduardo Cunha sabe disso. Por isso, intenta por todos os meios, públicos e privados, destruir a aliança. Se fizer isso, o que até agora não conseguiu, terá reunido as condições para desfechar o golpe institucional.

5- Só haveria contradição entre uma orientação econômica não recessiva e nossa política de alianças caso o PMDB fosse uma agremiação de conteúdo ideológico neoliberal. O que não ocorre.

Durante a votação do ajuste, o PMDB fez aprovar – e aí pouco importa o real  motivo de suas intenções – várias medidas contrárias à lógica do conjunto de MPs encaminhado pelo PT, entre as quais: fim do fator previdenciário, correção integral das aposentadorias, continuidade dos programas de desoneração para as indústrias de beneficiamento de alimentos, entre outras.

6- Parte da crítica de Valter procede. Cometi uma imprecisão. O PMDB não é fisiológico. Não pode ser comparado às chamadas legendas de aluguel envolvidas no chamado mensalão.

Em minha opinião, na sua parcela majoritária, o partido agrupa os interesses das velhas elites agrárias, em especial dos estados mais empobrecidos, que apenas conseguem reproduzir a sua presença política devido ao efeito que os recursos das chamadas emendas do orçamento da União produzem na economia de suas localidades.

Absolutamente dependente dos governos, nos três níveis da república, o PMDB necessita de um Estado que não seja mínimo em hipótese alguma, daí porque seus interesses de grupo não confundem com os do capital financeiro ou do agronegócio representados, com muito mais nitidez, na coalizão neoliberal encabeçada pelo condomínio PSDB-DEM. Isso muito embora, por injunções regionais, haja interlocutores das áreas mais reacionárias dentro desse partido, a exemplo de Eduardo Cunha e Kátia Abreu, bem como das áreas progressistas, a exemplo do senador Requião.

Em condições de avanço do movimento de massas - diversas das atuais que refletem uma conjuntura de cerco e resistência – o apoio do PMDB pode ser mobilizado para ações estratégicas como o fortalecimento do setor público da economia, vide a votação do Pré-Sal, ou aprofundamento de direitos sociais, como no caso da regulamentação da profissão de Empregada Doméstica. Para que não haja ilusões, no entanto, é necessário reconhecer que, no que se refere à questão agrária, provavelmente não poderemos contar integralmente com esse partido. E, pelo visto, nem com os companheiros do PC do B, que votaram a favor de mudanças no Código Florestal.

Nem santo, nem demônio, o PMDB exibe diferenças em relações a nós, da esquerda. Mas, aliança não se faz entre iguais e sim entre diferentes. Em suma, o problema não está no PMDB. A questão reside na nossa dependência ao PMDB e às alianças “por cima”. No entanto isso não se resolve com uma penada. É necessário que o movimento de massas aprofunde a sua unidade, elaboração programática e capacidade de mobilização. Só assim a dependência poderá ser diminuída.

7- Concordo plenamente.

8- A divertida esquizofrenia redacional do Valter merece parabéns. O manifesto é excepcional. Só acho que a tática de um Valter não guarda correspondência com a estratégia do outro Valter. Mas, creio que já ressaltei esse aspecto anteriormente.

Cordialmente

Marcelo

Prosseguindo na polêmica com Marcelo Barbosa

Por Valter Pomar

1- Não sei com base no que Marcelo acredita que o programa “ideado” pelo Mantega não “tinha a abrangência que assumiu em 2015”.

O que sei é que a campanha de 2014 estava em curso e Guido Mantega já falava em ajuste fiscal.

O que também sei é que, na mesma época, Nelson Barbosa esteve em reunião do grupo de conjuntura da Fundação Perseu Abramo e defendeu algo na linha do que está sendo feito agora.

Estes entre outros são meus elementos para considerar que o Levy foi convidado para aplicar um determinado programa.

Agora, é bom lembrar por quais motivos isto entrou em discussão. A saber: o ajuste pode ser explicado ou justificado pela ofensiva da direita? Ou a ofensiva da direita é facilitada pelo ajuste? Este é o centro da polêmica.

E a prova dos 9, na minha opinião, está no seguinte: é possível derrotar a ofensiva da direita sem parar o ajuste? As grandes massas populares terão ânimo para defender a democracia, se o governo democrático estiver fazendo um ajuste recessivo?

2- É acaciano dizer que a instabilidade política “teve e tem natureza política”. A questão que discuto é outra: para derrotar a instabilidade política, é preciso recuperar a confiança popular. E isto é muito difícil de fazer, se o governo não lembra a última vez que deu boas notícias para o povo (copio aqui a síntese feita pelo Lula).

Por isto, não vejo separar a luta por outra orientação econômica no futuro, da luta no presente contra o ajuste. Aliás, tentar fazer esta separação foi o maior erro do recente 5º Congresso do PT.

3- Me surpreende que Barbosa diga que os efeitos da atual orientação econômica “ainda não se fazem sentir com tanta intensidade”.

Que vai piorar muito, eu sei.

Mas que já piorou o suficiente, basta ver os índices de popularidade da presidenta, do Lula e do PT.

4- Claro que há diferenças entre Cunha e Temer.

O problema – aqui e em outras passagens da polêmica – é que Barbosa passa do plano estratégico para o plano tático e vice-versa, sem dar seta.

Por partes: no plano estratégico, concordamos que Cunha e Temer não são nossos parceiros.

No plano tático, concordamos que há diferenças entre um e outro. Cunha está na oposição. Já Temer defende a legitimidade do mandato da presidenta a depender da cotação do dia.

Seja como for, qual a consequência que tiramos disto tudo, quando a discussão diz respeito a aliança com o PMDB?

Continuaremos a aliança estratégica com o PMDB, aprovada num congresso do Partido?

Ou esta aliança esgotou-se?

Esta é a polêmica.

5- Barbosa diz não ver “vínculo direto entre a nossa política de alianças e atual política econômica”.

Repito aqui o que disse antes: Claro que há um vínculo direto e outro indireto entre a atual política econômica e a política de alianças. Mas o mais importante é: outra política econômica exige outra política de alianças. Ou alguém acha que a atual aliança (que inclui Cunha e Temer) é compatível com uma política de transformações profundas?

Repito o mesmo, agora sob forma de pergunta: é possível outra política econômica com a atual política de alianças?

6- O fato do PMDB ser uma agremiação fisiológica e não um partido dotado de uma ideologia clara não tem nada que ver com isto.

Ele poderia ser ideológico e honesto e o problema estaria colocado, pois a questão é: que setores sociais o PMDB representa, nacionalmente?

Aliás, a resposta de Barbosa me lembra a crença de alguns amigos nossos acerca de como seria "fácil" lidar com os partidos fisiológicos. Não terminou bem aquele história, mas pelo visto já tem gente se esquecendo dela.

7- Não fico surpreso com o fato de um ajuste de corte “tucano” estar sendo patrocinado por um setor do PT.

Não esqueci de Palocci.

8- Barbosa apresenta uma dúvida divertida: “com qual Walter Pomar devo manter diálogo? Aquele que defende a tese do fim do ciclo da Carta de 1988, ou aquele que assina o memorável Manifesto do Grupo Brasil, documento que coloca no centro da tática do campo democrático-popular a mobilização contra o programa de contrarreformas constitucionais encabeçado por Eduardo Cunha?”

A resposta é: ambos são a mesma pessoa. Aliás tenho enorme identidade com a pessoa que redigiu o tal Manifesto.

Acontece que o fato de estarmos num momento de defensiva não pode nos impedir de pensar estrategicamente.

Aliás, um dos grandes motivos dos problemas que estamos vivendo foi a incapacidade de pensar estrategicamente.

Noutras palavras: adotar uma tática defensiva contra um inimigo momentaneamente superior em forças, não me impede de discutir por quais caminhos poderei impor uma derrota estratégica a este inimigo, quando houver condições de sair de defensiva e passar para a ofensiva.

Estou seguro, por sinal, que o Manifesto dá conta destes dois aspectos.

Atenciosamente

Valter Pomar

Retirado do blog do Valter Pomar.



6 de julho de 2015

Resposta ao texto "Polêmica", de Valter Pomar


Por Marcelo Barbosa

Após a última réplica do meu diálogo com o companheiro Valter Pomar sobre o texto Mito e realidade no cotidiano petista recebi, quase simultaneamente, duas mensagens: a primeira, do próprio Valter (reproduzida abaixo), espinafrando meu novo texto. A segunda, de felicitações ao conteúdo da minha resposta, assinada por esse grande brasileiro, o senador Saturnino Braga. Ao primeiro respondo abaixo, ao segundo agradeço o apoio.

Vamos, então, na ordem proposta pelo Valter:

1- Em 2014, a ajuste ideado pelo ministro Mantega era pensado como conjunto de medidas para reequilibrar as contas públicas. Não tinha a abrangência que assumiu em 2015. Foi o quadro surgido nos meses de janeiro a março que lhe deu a atual configuração, inclusive no que diz respeito à violência dos cortes orçamentários aprovados.

2- Concordo quando você diz que o ajuste provocará mais instabilidade. Porém, ao momento, a instabilidade teve e tem natureza política. A tarefa das forças democrático-populares é a de disputar o governo para a realização de uma outra orientação econômica, antes que os efeitos da atual, que ainda não se fazem sentir com tanta intensidade, se generalizem.

3- Não considero o Cunha e o Temer parceiros na construção de um projeto de nação. No entanto, há que se fazer distinções entre um e outro. Enquanto Cunha trama a derrocada do nosso governo, Temer defende a legitimidade do mandato da Presidenta Dilma.

4- Não vejo vínculo direto, como você diz, entre a nossa política de alianças e atual política econômica. O PMDB se singulariza por ser uma agremiação fisiológica e não um partido dotado de uma ideologia clara. Para nossa surpresa, quem propôs um ajuste de corte “tucano” foi o PT e, não o PMDB. O problema apresenta uma complexidade maior do que você deseja admitir.

5- Gostei de saber que você irá pensar sobre a minha argumentação acerca da atualidade da questão nacional.

Recomendo a você a leitura (ou a releitura) de textos que constroem pontes de diálogo entre as diferentes vertentes do pensamento social brasileiro, mesmo quando conduzindo a conclusões diferentes das minhas, a exemplo de “Subdesenvolvimento: fênix ou extinção”, de Chico de Oliveira, a respeito da obra de Celso Furtado.

6- Com relação à Constituinte Exclusiva, uma dúvida me vem à mente: com qual Walter Pomar devo manter diálogo? Aquele que defende a tese do fim do ciclo da Carta de 1988, ou aquele que assina o memorável Manifesto do Grupo Brasil, documento que coloca no centro da tática do campo democrático-popular a mobilização contra o programa de contrarreformas constitucionais encabeçado por Eduardo Cunha?

7- Com relação ao projeto de nação, não alimento ceticismo igual ao seu. Ao contrário. Considero que a elaboração programática a ser proposta pela grande frente popular em gestação, vai encontrar muito mais consensos que divergência, nada obstante as diferenças de expectativas entre seus participantes. A vida dirá.


Polêmica

Por Valter Pomar

Da minha parte, faço as seguintes observações sobre a tréplica assinada pelo companheiro Marcelo Barbosa:

1- Realmente o ajuste fiscal não é “apenas um conjunto de medidas econômicas”. Mas não é exato dizer que “trata-se de solução de compromisso para diminuir a intensidade e os efeitos da crise política que quase levou ao afastamento da presidenta”. Não é exato, porque esta explicação omite o fato de que em 2014 Mantega já falava em ajuste. A escolha de Levy também foi feita em 2014. Ou seja, a decisão de fazer o ajuste foi anterior aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2015. Logo, o ajuste não pode ser explicado nem justificado pela ofensiva da direita que é posterior à sua concepção. Ao contrário, a ofensiva da direita é que foi facilitada pelo ajuste. 

2- Exatamente por isto temos que dar um “cavalo de pau” na economia. Aliás, seria um “cavalo de pau” corretivo, pois o verdadeiro “cavalo de pau” foi dado pelo ajuste. Quem causa instabilidade é o ajuste, que aliás é um fracasso segundo seus próprios parâmetros. Ademais, o argumento segundo o qual "não há atalho para derrotar essa mal fadada política de austeridade" na prática impede uma frente em defesa de outra política econômica.

3- As coalizões no Congresso detém importância “numa via que se pretende democrática ao socialismo” a depender do programa, dos aliados e de quem dirige estas coalizões. Claro que há um vínculo direto e outro indireto entre a atual política econômica e a política de alianças. Mas o mais importante é: outra política econômica exige outra política de alianças. Ou alguém acha que a atual aliança (que inclui Cunha e Temer) é compatível com uma política de transformações profundas?

4- Vou pensar com meus botões acerca dos vínculos entre o que eu disse acerca da questão nacional, a resposta dada pelo Marcelo Barbosa a respeito do antiimperialismo, a relação disto com a Operação lava-jato e o diálogo entre as escolas do Iseb e da USP. Não estou seguro de que o “arsenal crítico da esquerda” ganhe com isto, mas certamente terei elementos para uma versão atualizada do famoso samba-enredo que falava de Xica da Silva e de Tiradentes.

5- Não basta ter lucidez tática, é preciso também ter lucidez estratégica. Por isto o tema Constituinte não deve “voltar à pauta” apenas quando a situação melhorar, sob pena de acontecer o que aconteceu em 2003. Aliás, a esquerda brasileira tem disso: quando estamos fortes, modera; quando estamos fracos, se dispersa entre os que lamentam não ter radicalizado na hora certa, os que pedem para esperar tempos melhores e os que acreditam que quem sabe faz a hora não espera acontecer.

6- Por fim: existem várias classes sociais, várias frações de classe e vários representantes políticos de cada um destes setores. Nem todo mundo concorda em “imprimir transformações profundas nas estruturas econômicas, culturais, políticas, sociais – entre outros nexos – de uma sociedade ainda extremamente desigual como a nossa”. Não se trata de expectativas, se trata de diferenças profundas. Motivo pelo qual não existe um único “projeto de Nação”. A não ser, é claro, naquele plano em que consideramos que o nosso é o único, os dos demais são falsa ideologia.

Publicado no blog do Valter Pomar.