O fracasso – em termos – dos protestos dos setores da chamada direita, no último dia 12 de abril, pôs fim a uma conjuntura singular na recente história do Brasil.
Pode-se
aprender muito com o episódio.
Durante
cerca de 100 dias, o centro político foi seqüestrado, com eficiência, pela
pregação dos contingentes mais reacionários (quando não abertamente fascistas)
do pensamento social. Uma franja ideológica em crescimento qualitativo e
quantitativo que se encontrava em hibernação desde o pré-64.
O
resultado dessa ofensiva?
A
formação de uma vaga autoritária a percorrer, quase por igual, todos os níveis
da sociedade brasileira, inclusive o Congresso.
Ainda
em plena vigência, o processo de contágio obscurantista perdeu, no entanto,
impulso. De fato, a presidenta Dilma, pelo visto, agiu bem nas últimas duas
semanas: “mexeu” corretamente no ministério, voltou a disputar o PMDB com a bête
noire da República, Eduardo Cunha. Por fim, abriu-se ao diálogo com os
movimentos sociais e o sindicalismo que, em boa hora, retornaram às ruas (ainda
que de forma insuficiente).
Duas
lições pairam no ar.
A
primeira, para o Governo: é impossível continuar patrocinando medidas antagônicas
aos interesses de sua base social, a exemplo do ajuste fiscal proposto nos
termos do ministro Levy.
A
outra para nós, engajados na parcela que apóia – de forma evidentemente crítica
– a atual ordem: só a esquerda, sozinha, sem o aporte do centro político, não
tem como sustentar esses governos cujo ciclo iniciou-se com a posse do operário
de São Bernardo, em janeiro de 2003.
Marcelo
Barbosa é doutor em Literatura Comparada pela UERJ e diretor-coordenador do
Instituto Casa Grande (ICG)
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