4 de novembro de 2013

Contribuição do Núcleo Celso Furtado, do PT-RJ, ao PED-2013

Do Núcleo Celso Furtado, do PT-RJ:

Contribuição ao Processo de Eleição Direta (PED-2013 - http://ped.pt.org.br/)

Os 10 anos de governo do PT representaram uma nova fase, uma inflexão nos rumos do país, que logrou enormes avanços para nossa sociedade. Sobretudo a partir de 2005, são lançadas as bases de um ciclo de desenvolvimento de longo prazo, com melhorias sociais e distributivas.
Nós construímos avanços importantíssimos. Nosso partido desviou o país da órbita do projeto neoliberal e, sobretudo após a posse de Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda, fez avançar um projeto desenvolvimentista onde foi possível: reverter a lógica do liberalismo econômico e criar dezenas de milhões empregos formais e realizar uma política de valorização real do salário mínimo mantendo a inflação dentro da meta; ampliar o gasto federal com as áreas sociais em condições macroeconômicas mais sustentadas; e, sobretudo, combinar crescimento com redistribuição de renda. Essa conjuntura era impensável nos anos liberais.

Como já dissemos em outras oportunidades, é preciso reconhecer que, justamente por conta dos enormes avanços obtidos – que tiveram repercussões positivas em toda América Latina e parte da África – a atual conjuntura se caracteriza pela necessidade de ultrapassagem do legado do presidente Lula. Não porque deu errado e, sim, porque deu certo.
Agora estamos em outra quadra histórica onde a temática do desenvolvimento, anteriormente abortada pelos anos liberais, está de volta.
O êxito de nossos governos impôs a necessidade de abordar a discussão sobre a criação um projeto nacional[1] que nos permita avançar para além do que já conquistamos. Talvez, a eclosão das jornadas de protesto que ocorreram a partir de junho acusem justamente a necessidade de um impulso renovador nas agendas políticas, econômicas e sociais do país.

Em outras palavras: o nosso processo de inclusão social se pautou, até agora, pela inserção via mercado. Chegou a hora de acrescentar novos horizontes à nossa intervenção organizada. É preciso incorporar, de maneira responsável, mas firme, a questão da superação da desigualdade e da exclusão social.

O papel do partido e do governo: a sintonia fina

São notórias as dificuldades enfrentadas pelo PT em sua relação com nossos governos. E nem poderia ser diferente. Encontrar o equilíbrio entre o necessário apoio às iniciativas de nossas administrações com a crítica que permite corrigir equívocos exige a presença de um partido vivo e atuante, dotado de uma pauta firme e comprometida com transformações de largo alcance.

O que precisamos não é de um partido marcado por um governismo desmedido e acrítico. Que diz amém a toda sorte de iniciativas que jamais fizeram parte de nosso corpo programático. Que se solidariza na aplicação de instrumentos de administração pública a exemplo das PPP, OS e que prossegue firme na realização dos lesivos leilões do Petróleo. É claro que ter um projeto de largo fôlego implica reconhecer que ele precisará ser negociado. Faz parte do processo. Contudo, nosso projeto e sua perspectiva de alcance não podem desaparecer.

De um lado, o governo cumpre seu papel em negociar as soluções possíveis e, de outro, nosso partido deve abrir espaços e organizar a sociedade para dar sustentação a nossos governos na promoção de mudanças profundas em uma sociedade ainda repleta de sinais de atraso estrutural, que reclama reformas na estrutura agrária, nas comunicações, no sistema financeiro, na propriedade fundiária urbana, nas regras eleitorais, entre outros itens.
Nenhuma dessas transformações se dará caso seja ignorada a correlação de forças. Daí porquê percebemos que é necessário que o nosso partido e o governo evitem o caminho do isolamento. Neste sentido, a aliança nacional com o PMDB se faz necessária, desde que, ao contrário do que fizemos até o momento, seja preservada a disputa da aplicação de programas que marca a enorme distância entre as práticas administrativas do PT e do nosso aliado.

Essa afirmação de nossa identidade de esquerda, que para nós é decisiva para reeleger a companheira Dilma, se faz igualmente necessária num momento em que a velha direita se traveste de modernizadora da “gestão” pública e abraça hipocritamente o tema da defesa do meio-ambiente – em grande parte degradado pela ação do grande capital – patrocinando as candidaturas da dupla Eduardo Campos e Marina Silva, sob aplauso da mídia golpista e da banca financeira internacional.

Diante deste quadro, resolvemos sugerir aos militantes de nosso núcleo e do partido em geral o voto nos companheiros abaixo listados em vista de sua proximidade, total ou parcial, com as concepções expostas neste documento:

Chapa nacional: “A esperança é vermelha” – 220
Presidente: Valter Pomar – 120

Chapa estadual RJ: “Um novo tempo” – 420
Presidente: Renam Brandão – 320

Chapa municipal RJ: “Um novo tempo” – 620
Presidente: Ricardo Quiroga – 520

Chapa 1ª Zonal: “Reencantar a militância” – 831
Presidente: Lúcia Reis – 731

[1] Por projeto nacional – Entendemos a mobilização presente de esforços no sentido de criar as bases teóricas, programáticas e culturais para, numa dinâmica provavelmente associada ao longo prazo, pôr em prática as transformações que a sociedade brasileira requer para se transformar numa nação capaz de assegurar a todos os seus cidadãos o exercício efetivo de direitos e garantias individuais e, sobretudo coletivos. Entre as medidas a serem adotadas – ainda obstaculizadas pela correlação de forças atual – se incluem: assegurar o caráter público e universal à educação e à saúde; implantar o imposto sobre grandes fortunas; taxar fortemente os lucros das empresas monopolistas; realizar uma reforma agrária em grande escala combinada com a formação de uma agroindústria ecológica; submeter o sistema bancário ao interesse coletivo; assegurar o controle público das ações do Estado; descriminalizar o aborto; democratizar os meios de comunicação em todos os níveis; pôr fim à concentração fundiária urbana; garantir o domínio do país sobre seus recursos materiais, sobretudo os de natureza hídrica; intensificar os trabalhos de unificação política e econômica dos países latino-americanos; proteger os biomas ameaçados pelos interesses econômicos; mudar radicalmente o modelo de transporte público hoje inviabilizado pela opção pelo aumento da frota de automóveis; entre outros. Conquistas, enfim, que deverão ser fruto da ação de uma nova maioria política e cultural formada pelo proletariado urbano e rural, pelos camponeses, camadas médias urbanas unidas aos movimentos sociais expressão dos anseios de mudança da juventude, das mulheres, dos negros, índios, grupos GLBT e populações quilombolas. Por certo, tal articulação não se confunde com o atual projeto de acumulação de capital no qual nosso governo e nosso partido tentam negociar e inserir algumas reivindicações dos setores da base da pirâmide social.

(retirado de: "Treze sugestões sobre o quadro político", publicado na edição 66 - março/2013, do Algo a Dizer).

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