30 de setembro de 2012

A dor do inevitável (conto)


Por Cinthya Nunes

Meu desejo é que você tenha saúde e vida longa. Desejo, porém, que uma vez, uma única só vez na vida, você fique doente. Desejo que parte de sua saúde lhe deixe, temporária, mas incisivamente, somente o suficiente para que você possa de fato sentir a falta que ela lhe faz e o valor que ela tem.
Desejo que nessa provação, você se dê conta da fragilidade de sua existência e de quanto é tênue e delicado o fio que o mantém no mundo dos vivos. Desejo que você sinta medo ao perceber que não é de aço, de pedra ou imortal e que basta um simples sopro do destino para apagar a fraca chama que anima seus dias e suas horas.
Desejo que você, nessa hora, tenha a real compreensão da dor e do desespero alheios, especialmente daqueles que não vão melhorar dentro de alguns dias ou dentro dessa vida. Desejo que no auge da sua própria angústia pelas forças que lhe faltam, você entenda o andar descompassado e vacilante do velho em quem você acredita que nunca irá se tornar.

Cinthya Nunes é advogada, professora universitária, cronista e membro da Academia Linense de Letras (cinthyanvs@gmail.com)

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